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Beatriz Férre | três poemas

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Felipe Pauluk | quatro poemas

todo corpo carrega  status de     :   casa estábulo & punhal todo corpo é manjedoura e ameaça um coldre de memórias *** atravessar rios & amordaçar serpentes são vícios inevitáveis para quem acorda preenchendo espaços oblíquos do tórax *** neste exato momento em algum lugar do planeta tem alguém dobrando uma esquina pela última vez carrega aquele sentimento de boca amarga                   boca amarga geralmente é recomeço *** ando com passos contidos como se evitasse escorregar para dentro da minha própria garganta *** Felipe Pauluk é um curitibano residente em são paulo, jogou na loteria da vida e numa quina, tirou o menor prêmio, a literatura. lançou seu primeiro livro, “meu tempo de carne e osso” em 2011. “hit the road, jack”, romance em 2012. em 2015, foi lançado “town”, novo romance do autor. “comida di botequim” e “tórax de são sebastião” foram seus dois livros de poemas public...

Marina Magalhães | três poemas

Prelúdios do afogamento. Para violino. Por fim, quando deixarás de alimentar os teus naufrágios? Me perguntaste sem saber que tripulação alguma deseja a própria morte. Nada podem fazer se a carcaça, já tão cheia de buracos, continua       sempre            a afundar.                   A marcha                   fúnebre faz                   glub.                   glub.                   g                   l                   u                   b. *********** Amor de prateleira Os dias vêm sobrando, transbordadas as horas pelo vidro. Tempo deixado em conserva é salgado demais p...

Francielle Villaça | três poemas

Alongamento A dor nos encurrala para o presente ************ Exercitar o conformismo mesmo que por um instante, ou melhor: ainda que por um instante sobretudo por mais um instante. Não, não atenuaremos o confronto: o conformismo nos atenta ao instante pouco a pouco até que os ossos estalem. ************ O freio de emergência habita alguma extremidade Tudo que é radical é, imanentemente, radical demais. Porque não há raiz sem mergulho. Porque ir até a raiz exige destreza, perícia, coragem. Raiz: palavra aguda. Palavra que destrona qualquer ilusão de fincar vida na superfície. Enraizar é um trabalho árduo. Mas, que em sua essência aguda, não vê outra possibilidade se não fincar. Fincar. Fincar em solo firme, fértil, mas nunca estável. Encurralados, a saída está na profundidade do nosso mergulho. ************* Francielle Villaça tem 20 anos, nasceu e mora em Vila Velha, no Espírito Santo. Atualmente cursa Letras - Português, na Universidade Federal do Espírito ...

Cecília Lobo | seis poemas

Troca de passes Há algo de futebolístico Vende-se compra-se Um passe aqui outro ali Era juiz virou ministro Era parceiro agora crítico Troca-troca de legendas Muitos símbolos Mesmos significados Remanejando numa luta Digna da bolsa de valores Os salários Cargos E peixadas Desses homens Furiosos ************ Memória Mudar todos os nomes De ruas, avenidas, viadutos Condenar os algozes Ainda que velhos ou mortos Queimar seus retratos Em praça pública Desenterrar corpos e arquivos Chamar as coisas pelos nomes certos Golpe de estado Tortura Assassinato Censura Ditadura Lembrar O tempo todo ************* Ventre livre Quanto a nós As mulheres Há que se tentar Viver solta Para evitar Morrer De prisões *********** Em Tremores Pupilas Pausas Ênfases Pés Gestos Bocas Tudo que somos Nos trai Discretamente ************* Crua E esse desejo sempre sobra Transcendendo metáforas Se fosse fome Seria desespero Seria com a daquele filme que você me fez ver Luxúria e asco e excesso E...

Marcos Samuel Costa | seis poemas

Chamas  Não chamas o deus, ser não físico, sem matéria, sem húmus, amo, não queimará nenhuma lembrança, a força que fará não tem água, não apaga, ele próprio não queima. O pesadelo em teu quarto, gás vazado, fósforo acesso, estalos, os dedos se estalaram, o crime de tenebrosa vertigem, morra, a casa fica fora da área de perigo, habitantes ausentes na festa, habitantes fugitivos da guerra sem deus, atravessam o mar num navio em chamas. Não habitará nenhuma casa humana, na criação da terra o deus fez terra e mar, oceano é palavra moderna, queimou as paredes, vejam – a intimidade do homem exposta. O homem ficou sem paredes, o quarto sem segredos, queimou, junto das páginas dum livro antigo de Machado, junto a cartas, cigarros febris, famintas chamas, chamas chamas o deus, ele não é como tu de carne, não queima, não morre e vira mármore frio, terra e pó, cinzas da tarde quente, o paraíso ficou na parte obscura dos olhos, ficou na parte seca dos braços. ************ É no meio ...

Ma Njanu | três poemas

dois graus menos que ontem é hoje imagino a sequela da chuva passada uma cova adentrando a vala rasa e mais outra e outra o barro dissolvido à espreita: qualquer sonata vela teu corpo a vala o velho a vespa o vírus abraça a terra, seu sol gira em torno de nós gato não pega rato também não nem mosca nem madeira papéis escritório as grandes corporações o banco só nós - [antropo]centro do mundo agora no entanto, é certa a miséria: aporta no Meireles e vai morrer na Barra. *********** a queda do céu ao inferno [dedicado ao humanismo, e os avanços nem tão queridos da modernidade] quebrou a máquina, desnecessário é viajar no tempo se em cada mão cabe cinco ossos para cada pessoa não enterrada. ********** o desaparecimento dos bichos é a modernidade a galinha vai pro abate eu consciente de sua morte, acaricio sua crista e digo: vai ficar tudo bem muitos cheiros entre dialetos macia é a pelagem sou carinhosa, sempre canto seu corpo e não me delicio nas suas coxas depois de prosseguir...