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Ana Priscila | quatro poemas


Vigília

A realidade é o pesadelo
do qual não podemos acordar

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Esforço

O impossível me corrói por dentro,
tripudiando a contento
de cada esforço por expressá-lo.

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Mote

A morte no monte.
Uma p
    o
    n
    t
    e

Corta!
Cena.

O norte é a morte
A morte é o mote.

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Engaiolada

Eu não sei por quê
o pássaro ainda canta
na gaiola.

Queria ser mais
como um pássaro

***********

Ana Priscila é advogada, cristã, feminista, psicanalista em formação, professora de italiano, cinéfila, cozinheira autodidata, tenista amadora, enxadrista de araque, flamenguista inveterada, ruiva e nordestina, barroca e andina. Apaixonada por literatura desde a mais tenra idade, tem influências que vão de Kaváfis a Castro Alves. Seu interesse predominante está em investigar as experiências e sensações advindas do divã, traduzindo-as em tessitura poética. 

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